terça-feira, 24 de março de 2015

Editorial da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia recomenda mudanças no cuidado à saúde da pessoa idosa

Defensor da renovação do modelo de atenção à saúde do idoso, Renato Veras vem se dedicando à proposição de modelos preventivos e de cuidado integral para o grupo etário das pessoas idosas. Em editorial, ainda inédito, da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (RBGG)*, intitulado “A urgente e imperiosa modificação no cuidado à saúde da pessoa idosa”, o diretor da UnATI/UERJ e editor da RBGG, Renato Veras, discute o modelo reconhecido por muitos como de difícil efetivação – mas não desiste de indicar as mudanças cada vez mais necessárias.
 
No editorial, Renato Veras analisa que o modelo atual de atenção à saúde do idoso se organiza para a cura das doenças de pessoas idosas, quando deveria “evitar o surgimento de doenças”. Para o autor, a quantidade de doenças que caracterizam essa fase da vida são, em sua grande parte, as doenças crônicas não transmissíveis - principais causas de óbito e incapacidade prematura.
 
Portanto, segundo Renato Veras, o modelo de atenção à saúde do idoso deve ser baseado em “prevenção ao longo de todo o curso de vida e em equipes qualificadas e bem preparadas para o cuidado”, como opção diferente e inovadora.

Sobre Renato Veras
 
Renato Veras é médico, Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/UERJ). Concluiu o doutorado (PhD) no Guy's Hospital da Universidade de Londres, em 1992, cidade onde fez seu segundo mestrado em Saúde Coletiva (Community Medicine), em 1984, na London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM). O primeiro mestrado, em 1982, foi realizado no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre os anos de 1976 e 1978, fez residência médica e especialização. Sua área de pesquisa é Epidemiologia e Doenças Crônicas na Terceira Idade, sendo consultor de agências e órgãos nacionais e internacionais.
 
Em sua “cruzada” na defesa de um novo modelo, Renato Veras, no dia 29 de janeiro deste ano, foi palestrante no “Seminário Modelos de Atenção à Saúde do Idoso”, promovido conjuntamente por Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe). A moderação foi de Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR e co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centres Global Alliance – ILC-GA).
 
*A RBGG
 
Fundada em 1998, a Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (RBGG) é uma publicação do Centro de Referência e Documentação sobre Envelhecimento, UnATI - Universidade Aberta da Terceira Idade, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem por objetivos publicar e disseminar a produção científica no âmbito da geronto-geriatria e contribuir para o aprofundamento das questões atinentes ao envelhecimento humano. A RBGG é continuação do título anterior da revista: Textos sobre Envelhecimento.

quinta-feira, 19 de março de 2015

O cuidado orientado por práticas baseadas em evidências – experiência de uma organização canadense

O cuidado da pessoa idosa nem sempre se efetiva como prática baseada em evidências. Para reduzir o intervalo entre a produção de evidências e do cuidado, a Iniciativa Nacional (canadense) para os Cuidados da Pessoa Idosa (Nice – National Initiative on the Care of the Elderly) articula o conhecimento da pesquisa com os saberes da prática e propõe soluções integradoras, em nível nacional e internacional.

Entre as questões abordadas pela organização Nice, está o longo tempo que o conhecimento baseado em evidências leva para chegar a quem interessa, além de pouca conexão direta entre produtores e usuários da informação; defasagem para alcançar novas gerações de estudantes; inúmeros sites no mundo destinados a apenas um tema; falta de espaço que reúna pesquisadores e profissionais para o desenvolvimento conjunto de conhecimento integrado.

O trabalho é baseado em intercâmbio de conhecimentos como processo interativo de múltiplos fluxos entre os interlocutores, equipes multidisciplinares também integradas por pessoas idosas e elaboração de instrumentos destinados à aproximação da pesquisa com a prática. A meta é que os instrumentos criem pontes multilaterais de informação.

A experiência canadense apresentada em São Paulo e Rio de Janeiro

Com o intuito de trazer ao Brasil a expertise da organização Nice, o Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil – ILC-BR) promoveu, com parceiros, dois seminários e duas oficinas com palestras de sua diretora científica, Lynn McDonald.

Os objetivos dos eventos foram (1) analisar a relevância para o Brasil dos instrumentos da organização Nice; (2) discutir o uso dos instrumentos já traduzidos para português; (3) verificar o interesse por pesquisa internacional colaborativa em temas relacionados ao cuidado de pessoas idosas e (4) facilitar a inclusão de interessados na rede ICCE (International Collaboration for the Care of the Elderly), vinculada à organização Nice.

Nos eventos, a expertise canadense foi representada por duas profissionais daquele país: (i) a palestrante Lynn McDonald, diretora científica do NICE, professora na Faculdade de Serviço Social da Universidade de Toronto; que dirige o Instituto de Curso de Vida e Envelhecimento (Institute for Life CourseandAging) e é Co-Diretora do Programa Colaborativo de Envelhecimento, Cuidados Paliativos e de Suporte (Collaborative Program in Aging, Palliative and Supportive Care); e (ii) a debatedora Louise Plouffe, pesquisadora sênior que contribuiu durante 25 anos para o desenvolvimento de políticas e práticas sobre envelhecimento, tanto no Canadá como internacionalmente; co-responsável pelo desenvolvimento do Guia OMS Cidades Amigas do Idoso; colaboradora associada do ILC-BR e integrante do recém-criado ILC-Canadá.

Instrumentos para a prática baseada em evidências

Os instrumentos produzidos sob liderança da organização Nice se caracterizam pelo livre uso, pela elaboração coletiva sem reserva de direito autoral (com poucas exceções) e pela adaptação transcultural. Nos eventos, foram citados os cinco instrumentos já traduzidos para português, sendo um relacionado à terminalidade da vida; três voltados a maus-tratos e um destinado a cuidadores:
1. Quando um ente querido está morrendo
2. Rastreamento de Maus-Tratos do Cuidador (CASE, na sigla em inglês)
3. Índice de Suspeita de Maus-Tratos a Idosos © (EASI, na sigla em inglês)
4. Indicadores de Maus-Tratos (IOA, na sigla em inglês)
5. Respeitar a todos (Respect All, em inglês)

Quando um Ente Querido está Morrendo

“Quando um Ente Querido está Morrendo” é um instrumento orientador, baseado em evidências, concebido pela organização Nice e avaliado como pertinente para uso no Brasil por um grupo de experts, responsáveis pela edição brasileira. O desenvolvimento da edição foi proposto pelo ILC-BR e conduzido por Louise Plouffe, em parceria com experts da Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) - vinculado ao Instituto Vital Brazil; além de profissionais liberais da área do envelhecimento.

Disponível para download, a publicação “Quando um Ente Querido está Morrendo” se destina a todas as pessoas, com um foco mais específico naqueles que acompanham um idoso em fim de vida e dicas em linguagem simples e accessível a todos - familiares e amigos de pessoas que estão morrendo, cuidadores, profissionais e gestores públicos, entre outros. Dois terços das pessoas que morrem têm 60 anos e mais e nem sempre recebem o apoio apropriado, pois raros são os indivíduos que sabem o que esperar ou como agir diante da proximidade da morte.

Rastreamento de Maus-Tratos do Cuidador (CASE, na sigla em inglês)

O objetivo do CASE é identificar, intervir e/ou prevenir maus-tratos contra idosos, com todos os clientes que são cuidadores de idosos, suspeitando-se ou não da ocorrência de maus-tratos. Ele é composto por oito itens favorecedores da trocas de informações que permitem a identificação de maus-tratos e/ou negligência e, de outra forma, passariam despercebidos.

A aplicação ao Brasil foi validada por pesquisa de Adaptação Transcultural realizada por um grupo de pesquisadores e publicada nos Cadernos de Saúde Pública.

[Adaptação transcultural para o Brasil do instrumento Caregiver Abuse Screen (CASE) para detecção de violência de cuidadores contra idosos / Cross-cultural adaptation to Brazil of the instrument Caregiver Abuse Screen (CASE) for detection of abuse of the elderly by caregivers. Carlos Montes, Paixão Jr; Michael Eduardo, Reichenheim; Cláudia Leite, Moraes; Evandro Silva Freire, Coutinho; Renato P., Veras. Cad. Saúde Pública; 23(9); 2013-2022; 2007-09.]

EASI, IOA e Respect All

Os demais instrumentos traduzidos para português requerem validação nos moldes da que foi efetuada para “Quando um Ente Querido está Morrendo” ou para adaptação transcultural, são eles: Índice de Suspeita de Maus-Tratos a Idosos © (EASI, na sigla em inglês); Indicadores de Maus-Tratos (IOA, na sigla em inglês) e Respeitar a todos (Respect All, em inglês). Em caso de interesse, contatar Louise Plouffe: louise.plouffe@gmail.com

Eventos no IAMSPE

O Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe) promoveu um seminário e uma oficina com palestras da diretora científica do Nice, Lynn McDonald, moderação de Alexandre Kalache e debate de Louise Plouffe.

O seminário

Intitulado “Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado - Como o Canadá cuida da sua população idosa?”, o seminário aconteceu no dia 09 de março de 2015, de 09:30 às 12:00, no Anfiteatro do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), com a participação de 400 profissionais de saúde, estudantes, médicos, residentes e gestores.

Em suas palavras iniciais, Kalache destacou que o Iamspe de hoje é o Brasil daqui a 30 anos, em vista da proporção de pessoas idosas. E afirmou que “devemos respeitar e tentar diminuir as dificuldades das pessoas idosas, melhorando a qualidade de vida do idoso e do cuidador.” Para Kalache, a implantação de uma cultura do cuidado cria um ambiente favorável à melhoria da qualidade de vida e ao entendimento de que as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) não têm cura e requerem cuidado.

A palestrante Lynn McDonald enfatizou a necessidade de políticas públicas e cursos destinados aos idosos: “Eles devem ser inseridos em todas as atividades. É necessário promover um envelhecimento ativo e capacitar profissionais para o cuidado dos idosos que precisam de maior atenção.”

Lynn McDonald contextualizou a situação do envelhecimento no Canadá, país com grande extensão de terra e pouca população e que, em termos demográficos, tem mais idosos do que crianças pequenas. E ressaltou que o maior problema do envelhecimento em seu país é a prevalência de deficiências por demências. Em segundo lugar fica a redução da capacidade funcional causada por DCNTs.

Sua apresentação descreveu o funcionamento da organização Nice e do trabalho desenvolvido, além do enfoque orientador da articulação conjunta para a criação de produtos integradores de pesquisa e prática.

Louise Plouffe estabeleceu paralelos entre os dois países e apontou como duas excelentes medidas para o processo de envelhecimento brasileiro: o Benefício da Prestação Continuada (BPC), uma pensão não contributiva para quem tem mais de 70 anos, e a Cobertura Universal de Saúde, princípio estruturante do Sistema Único de Saúde (SUS).

A oficina

No mesmo dia 09 de março, de 14:00 às 16:00, profissionais do Iampe se reuniram com as convidadas canadenses e a equipe do ILC-BR para uma discussão sobre o conteúdo do seminário e a avaliação de aplicações práticas dos instrumentos da organização Nice que possam ser adotados pelo Iamspe.

Em diálogo com o grupo da oficina, Lynn McDonald explicou que a organização Nice identifica situações complexas e elabora instrumentos orientadores da prática, a partir do trabalho de grupos temáticos formados pela expertise científica e pela experiência da prática. Também informou que há instrumentos impressos em formato “de bolso” e instrumentos online.

Os participantes da oficina também analisaram o interesse por pesquisa internacional colaborativa pela participação na rede ICCE (International Collaboration for the Care of the Elderly/Nice). Os interessados manterão contato com a Dra. Louise Plouffe.

Oficina coordenada pela Escola de Saúde Pública

Por iniciativa da médica Marília Cristina Prado Louvison, professora doutora no Departamento de Prática em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), foi realizada no dia 10 de março, a oficina com a Rede Paulista de Pesquisa em Envelhecimento Ativo. A oficina foi acolhida pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo (SES-SP) e organizada pela área de Saúde do Idoso dessa Secretaria.

O objetivo da Oficina era propor que a Rede Paulista de Pesquisa em Envelhecimento Ativo incorporasse pesquisadores de geriatria e gerontologia, alunos, parceiros e grupos. Sempre em alinhamento com projetos do ILC-BR e do Canadá, em vista de sua expressiva liderança no tocante às políticas públicas que adotam as perspectivas da OMS para um envelhecimento ativo.

A Rede Paulista de Pesquisa em Envelhecimento Ativo recebeu com entusiasmo a oportunidade de encontrar Lynn McDonald e Louise Plouffe para ampliar as pesquisas que a Rede vem desenvolvendo em São Paulo em parceria com o ILC-BR, em particular para dar continuidade à articulação com a Louise no Canadá. Constituída no ano passado, a Rede Paulista de Pesquisa em Envelhecimento Ativo tem liderado o processo de investigação, em particular com um novo projeto aprovado pelo CNPq (Política de envelhecimento ativo e estratégias amigas do idoso: um caminho necessário e possível para a gestão de sistemas e serviços de saúde?). A pesquisa é coordenada por Marília Louvison na Faculdade de Saúde Publica, indo até 2017, período em que poderá eventualmente incorporar a análise de algum instrumento proposto por Lynn McDonald, a partir de interesse dos pesquisadores.

Entre os presentes estavam representantes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – seção São Paulo (SBGG-SP), do Centro de Referência do Idoso (CRI-Norte), SES-SP, Instituto de Saúde, Hospital Universitário da USP e de governos municipais.

Ao responder à pergunta de uma participante sobre a existência de um determinado instrumento na Rede Nice, Lynn enfatizou que uma iniciativa brasileira de desenvolver um instrumento com suporte da Nice vai gerar um produto que será útil para países de língua portuguesa, em conformidade com a política de compartilhamento da organização canadense.

Todos os participantes saudaram a ampliação da abrangência da Rede Paulista para o nível nacional, passando a chamar-se Rede de Estudos e Práticas de Envelhecimento – REPEA.

Seminário no Rio de Janeiro

O Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil – ILC-BR) e o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil, realizaram seminário no dia 12 de março, com foco nas experiências da organização Nice. O seminário apresentou a experiência canadense na construção de instrumentos destinados à prática baseada em evidências. Lynn McDonald descreveu o modelo Nice, seus objetivos, a forma como mede resultados e alguns instrumentos de maior impacto.

O debate contou com a canadense Louise Plouffe e com o geriatra Daniel Azevedo, vice-presidente da Regional Sudeste da Academia Nacional de Cuidados Paliativos epresidente (2012-2014) da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). A mediação foi de Alexandre Kalache, co-presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (International Longevity Centres Global Alliance – ILC-GA) e presidente do ILC-BR.

O mundo pode ficar livre da carga evitável de demência

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que é possível um “mundo livre da carga evitável de demência” e propõe uma Ação Global Contra a Demência, como estratégia de conscientização sobre a necessidade de que os governos se comprometam com a implementação das políticas requeridas pela iniciativa. Insta, ainda, os governos a proverem recursos para o cuidado da demência e para a pesquisa voltada à cura.
 
A realização da Conferência Ministerial da OMS por uma Ação Global Contra a Demência, nos dias 16 e 17 de março, em Genebra, representou um marco para a mobilização em torno do tema. Para o Diretor de Saúde Mental da OMS, Shekhar Saxena, essa é uma “oportunidade sem precedentes para a discussão sobre a magnitude do avanço de processos de demência no mundo e seu impacto devastador na saúde e, em particular, para os países de baixa e média renda.” Shekhar Saxena destacou a importância desse encontro para os países-membro da OMS, para a sociedade civil, experts e outros interessados.
 
Alexandre Kalache participou da Conferência Ministerial em Genebra, depois de ter estado presente na sessão sobre “Demência”, do simpósio de 2015, da Conferência Mundial de Cúpula em Inovações para a Saúde (World Innovation Summit for Health - WISH).
 
A OMS disponibiliza apresentações em Power Point e sessões gravadas em seu Media Centre.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Inovações para aspectos críticos do cuidado de saúde

Ao considerar a enormidade de aspectos críticos do campo da saúde, o ILC-BR coloca em pauta os temas “Cobertura Universal de Saúde”, “Demência” e “Comunicação de mensagens complexas da Saúde”, mobilizados, entre outros, no simpósio anual da Conferência Mundial de Cúpula em Inovações para a Saúde (World Innovation Summit for Health - WISH). Esses temas integraram os relatórios de pesquisa publicados e apresentados no WISH 2015*.
 
O ILC-BR se alinha ao WISH em suas reflexões e orientações das questões da Saúde ao redor do mundo. O WISH é uma Comunidade Global de Cuidados de Saúde constituída com a missão de captar e disseminar as mais sólidas idéias baseadas em evidências, de modo a fornecer soluções globais que salvem vidas e poupem recursos.
 
Estima-se que entre 2011 e 2013, o custo agregado no tratamento de Doenças Não Trasmissíveis, em todo o mundo, será de 30,4 trilhões de dólares.
 
A atuação do WISH se estrutura na pesquisa desenvolvida em nível global, para identificar os desafios do cuidado de saúde e transformá-los em recomendações e marcos para os governos em todo o mundo. Os achados de pesquisa são comunicados aos experts internacionais durante os simpósios anuais, com o intuito de inspirar mudanças e colaborações. Grupos de experts elaboram relatórios balizadores dos debates empreendidos em cada simpósio anual. Cada relatório indica por que o tema é importante e faz recomendações.
 
COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE

O relatório sobre este tema reafirma o acesso ao cuidado de saúde como direito humano básico, além da tendência mundial de um movimento crescente pela cobertura universal. Entre as perguntas do relatório, destaca-se o questionamento sobre quais grupos populacionais e serviços que devem ser cobertos.
 
A meta deste relatório é manter a “cobertura universal de saúde” como a mais alta prioridade da agenda global de saúde e estimular o debate fundamentado, além de ações por todo o mundo.
 
Por que esse tópico é importante?
  • Neste momento, em todo o mundo há um bilhão de pessoas sem acesso aos serviços básicos de saúde.
  • Todo ano, milhões de pessoas são lançadas à pobreza por despesas de saúde pagas pelo próprio bolso.
  • Em dezembro de 2012, a Organização das Nações Unidas publicou uma resolução instando todos os países a planejarem a implantação da cobertura universal de saúde ou definirem uma transição de seus sistemas nessa direção.
  • Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cobertura universal de saúde é o mais poderoso conceito que a saúde pública pode oferecer.
  • Se implantada corretamente, a cobertura universal de saúde pode proporcionar benefícios significativos em termos de saúde, economia e política.
Recomendações
 
O planejamento e a implementação da cobertura universal de saúde formam um processo que não pode ser visto como adequado a qualquer contexto. Cada país deve levar em conta as necessidades de saúde específicas de sua população, assim como o nível de desenvolvimento econômico e sua conjuntura política.
 
Entretanto a revisão das evidências de pesquisa identificou algumas questões chave sobre as quais se realizam consensos sobre abordagens da cobertura universal de saúde que são mais efetivas do que outras, a saber:
 
¨Foco no alcance de cobertura total de um conjunto de serviços.
 
¨Escolha de mecanismos públicos de financiamento, como impostos ou contribuições de seguro social de saúde.
 
¨Compromisso político sustentável, oriundo do mais alto nível de governo – inclusive no nível estadual, como fator essencial para o sucesso de reformas.
 
Essas recomendações foram endossadas por inúmeras organizações, inclusive o Banco Mundial e a Comissão do Lancet. O relatório foi elaborado sob a coordenação de Sir David Nicholson, co-autor do documento com Robert Yates, Will Warburton, Gianluca Fontana.
 
DEMÊNCIA
 
A demência influencia a qualidade de vida e causa grandes tensões aos cuidadores e aos sistemas de saúde. O cuidado da demência gera custos extremamente altos e insustentáveis, além de ser prestado, predominantemente, de maneira informal.
 
Nesse contexto, há uma necessidade urgente de identificar e disseminar abordagens inovadoras e custo-efetivas, voltadas ao diagnóstico precoce e ao gerenciamento clínico.
 
Por que esse tópico é importante? 
  • A cada quatro segundos há um novo caso de demência no mundo.
  • Em 2013, aproximadamente 44 milhões de pessoas em todo o mundo tinham demência; a expectativa é que esse número chegue a 76 milhões em 2030 e 135 milhões em 2050.
  • O custo do cuidado de pacientes com demência foi estimado em 604 bilhões de dólares em 2010 – o equivalente a um por cento do GDP global. Espera-se que, em 2050, os custos excedam 1 trilhão ao ano, apenas nos Estados Unidos.
  • Se o cuidado da demência fosse um “país”, seria a 18ª maior economia do mundo.
Recomendações
 
A partir de dez recomendações chave para políticas a serem consideradas pelos governos, as recomendações visam melhorias para os indivíduos que vivem com demência.
 
¨Desenvolver um plano nacional para demência.
 
¨Aumentar a consciência sobre demência.
 
¨Incluir a saúde do cérebro como requisito para a vida saudável.
 
¨Melhorar a produção de evidências para demência.
 
¨Aperfeiçoar o cuidado da demência.
 
¨Fortalecer a integração e a coordenação de sistemas de cuidado de saúde e social.
 
¨Desenvolver e financiar estudos longitudinais.
 
¨Reduzir barreiras para a produção de medicamentos.
 
¨Buscar compromisso governamental para investimento de pelo menos um por cento do custo do cuidado no país.
 
¨Facilitar a inovação de mecanismos de financiamento.
 
O relatório foi elaborado por Ellis Rubinstein, Cynthia Duggan, Brett Van Landingham, Didi Thompson, Will Warburton.
 
COMUNICAÇÃO DE MENSAGENS COMPLEXAS DA SAÚDE
 
Na área da saúde, as mensagens trocadas são essenciais para criar e manter o bem estar para todos – qualquer que seja a situação: encaminhar uma doença apropriadamente; manter e melhorar a saúde ou conter crises de saúde pública.
 
O relatório sobre a comunicação na Saúde reconhece que apenas uma comunicação efetiva não resolve os problemas globais nessa área, mas representa um importante papel na integração entre o que é conhecido, o que é dito e o que é feito nas políticas de saúde e nos serviços.
 
Por que esse tópico é importante? 
  • Importantes desafios são interpostos pelas populações de pessoas idosas, pelo aumento das doenças relacionadas ao estilo de vida e pela contínua carga de doenças infecciosas.
  • Os indivíduos são instados socialmente para fazerem escolhas inteligentes para sua saúde, mas vem se reduzindo a confiança em fontes tradicionais de informação.
  • Há uma necessidade vital de inovação e mudança na forma como a saúde é comunicada.
Recomendações
 
¨Condicionar o financiamento da comunicação ao planejamento da comunicação baseada em evidências.
 
¨Organizações de saúde devem ter coordenadores de comunicação em suas diretorias.
 
¨Construir capacidade por meio de treinamento de habilidades de comunicação.
 
A complexidade da comunicação em saúde tem contribuído para a ocorrência de dano e de resultados indesejados, que geram conseqüências locais e globais. Autores do relatório: L. Suzanne Suggs, Chris McIntyre, Will Warburton, Sarah Henderson, Peter Howitt.
 
*O World Innovation Summit for Healt (WISH) é uma iniciativa da Fundação Qatar para Educação, Ciência e Desenvolvimento Comunitário. O WISH 2015 foi realizado de 17 a 18 de fevereiro, em Doha, Qatar. Alexandre Kalache, co-presidente da Global Alliance of International Longevity Centers (ILC-GA) e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), foi um dos delegados presentes ao evento.
 

domingo, 8 de março de 2015

A vida da mulher idosa e o Dia Internacional da Mulher

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher foi realizado, no dia 5 de março, o seminário Contextos da violência contra a mulher idosa, por iniciativa conjunta do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), vinculado ao Instituto Vital Brazil. O seminário representou uma oportunidade para reflexões sobre a mulher idosa nos contextos demográfico, social, institucional e familiar da violência contra a mulher idosa.

As mulheres vivem mais do que os homens, em um cenário de maior número de mulheres idosas e de um número de homens idosos que diminui com o passar dos anos: esse é um cenário de feminização do envelhecimento. Assim, qual o impacto do aumento do número de mulheres idosas? O Censo de 2010 (IBGE) confirmou que o número de mulheres idosas é superior ao de homens no Brasil: 75 homens para 100 mulheres. Das 24.800.000 pessoas idosas, 13.844.000 são mulheres e 11.010.000 são homens.

Para Cecília Minayo, expert em estudos de violência e palestrante do seminário, “as balizas para a análise da feminização do envelhecimento são: situação de classe, diversas situações de gênero e as relações familiares, entre outras. As ocorrências de violência são classificadas como física, emocional, econômico-financeira, patrimonial, negligência e abandono.”

Nesse quadro, as mulheres enviúvam mais, após relações de poder ao longo do curso de vida, que tendem a criar uma situação mais vulnerável para elas - que enfrentam expressivo declínio físico antes da morte. Também as condições econômicas podem ser desiguais, já que muitas nunca tiveram trabalho remunerado ou contribuição para a previdência social ou privada. Ademais, muitas mulheres idosas são obrigadas pelos filhos a se tornarem provedoras. Além do abuso financeiro, sofrem também violência psicológica e física.

Um evento concorrido

Auditório cheio, muitas representações de entidades de defesa da mulher, de direitos humanos e de combate à violência. Estavam presentes a sociedade civil e o governo, para discutir a apresentação de Cecília Minayo sobre os contextos da violência, nos aspectos histórico e estrutural, a partir de definições de violência estabelecidas pelo Estatuto do Idoso, pela Lei Maria da Penha e pela Organização Mundial da Saúde. A expert também levou ao público encaminhamentos e propostas.

Após a exposição de Cecília Minayo, um debate teve moderação de Alexandre Kalache, médico, gerontólogo, co-presidente da Global Alliance of International Longevity Centres e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR). 

As debatedoras foram Ligia Py, Psicóloga, mestre em Psicossociologia e doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da UFRJ, especialista em Gerontologia titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG); e Márli de Borborema Neves, mestra em Fonoaudiologia, especialista em Gerontologia pela SBGG e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-RJ.


O público participou ativamente com perguntas e comentários, especialmente relativos ao cuidado da mulher idosa. Em uma das respostas, Cecília Minayo esclareceu: “o contrário de violência não é ‘não violência’, mas inclusão e cuidado”.

Mais informações sobre a palestrante

Maria Cecília de Souza Minayo é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz.

Cecília Minayo é doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1989), com mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985) e dois cursos de graduação, sendo o segundo em Ciências Sociais na City University of New York (1979).

Desde 1997 é editora científica da revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Em 2014, foi uma das 21 personalidades que receberam, no dia 10 de dezembro, o Prêmio Direitos Humanos 2014, oferecido pela Presidência da República, em sua 20ª edição. O Prêmio representa a mais alta condecoração do governo brasileiro às pessoas e instituições que desenvolvem ações de destaque nas áreas de promoção e defesa dos Direitos Humanos. Cecília Minayo recebeu a honraria na categoria Garantia dos Direitos da Pessoa Idosa.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Artigo “A idosa e a Lei Maria da Penha”, análise de uma Promotora de Justiça

Entre os múltiplos olhares lançados sobre a proteção da mulher e o combate à violência, estão grupos, organizações, governos e instituições, entre muitos outros.

Uma iniciativa do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o Centro da Pessoa Idosa (Caravana da Pessoa Idosa), publicou artigo que analisa a situação da mulher idosa, tendo em vista da Lei Maria da Penha.

No artigo, a Dra. Yélena Araújo, Promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco, coordenadora do programa Caravana da Pessoa Idosa, reflete sobre a mulher idosa no Brasil, negação de direitos, alegação de inaplicabilidade da Lei Maria da Penha e situações cotidianas que reforçam a “menos valia da mulher idosa”. O artigo foi publicado na revista Tema de Direitos Difusos – Diálogos Interdisciplinares 5.

A Caravana da Pessoa Idosa é uma iniciativa voltada à capacitação e implantação de Conselhos de Idosos no estado de Pernambuco.